No primeiro semestre de 2018 vivi um dos momentos mais intensos na minha jornada de mãe e educadora: meu filho era meu aluno. Decidi compartilhar com vocês um pedaço dessa jornada, os desafios e sabores que ela me proporcionou. À época ainda não tinha o Blog, @marianaeduca era um sonho. Mas já estava em mim, na minha pele, na minha alma, no meu coração, essa paixão pela relação criança- escola-família.
“SER MÃE, SER PROFESSORA… EIS A QUESTÃO”
Muitas mulheres escrevem e falam sobre o desafio de ser mãe. Tantas outras leem ou ouvem esses textos. Muitos professores dividem as angústias de amar uma profissão tão bela, porém tão desvalorizada em nosso país, o que a tem tornado cada vez mais difícil. Imagina só as caras que vejo quando digo que além de mãe, sou também professora do meu filho?
Ah…. Não imagine. Porque talvez você será como muitos que me direcionam seus olhos arregalados, como se eu estivesse fazendo a coisa mais impossível do mundo. Ou outros com tanta naturalidade, até mesmo um desdém… Nem oito nem oitenta.
No início… Bem, devo dizer a verdade, antes do início, já me preocupava e respondia brincando com uma verdade “Já estou na terapia”. E ainda bem que estava e continuo. Hoje, após 2 meses exercendo dupla função com meu pequeno, não poderia estar mais realizada.
Durante anos venho cuidando dos filhos de outras pessoas, na maioria das vezes estranhas, que passaram por aquele momento comigo e se foram. E cuido mesmo, acolho, com o maior amor e respeito que eu acho que um professor deva ter por qualquer criança e por sua família. São muitas angústias, muitas histórias e muitos sonhos envolvidos, sempre! E só pensava como seria lidar com tudo isso, só que da minha família. Estava focada em pensar como ser justa com todas as crianças, inclusive com meu filho. Minha pergunta era uma só: “Será que eu vou cobrar demais dele? Fazê-lo de exemplo para os outros?” E isso me consumia e não tinha resposta…
Tudo mudou no dia em que eu pensei que eu teria uma oportunidade ímpar: fazer pelo meu filho tudo que eu faço por tantas crianças, toda dedicação, cada olhar, cada sorriso, cada abraço (os mais sinceros do mundo, pode ter certeza) e que fazia tão bem a elas. Quando pensei assim soltei minhas amarras e nenhum olhar mais me assustava. Fui tomada por um orgulho que não cabe em mim.
O que eu não sabia é que seria muito mais profundo do que isso. Acompanhar cada etapa de seu processo de alfabetização, poder vibrar duplamente (na escola e em casa) com cada conquista (e eles se acham os donos do mundo quando descobrem que podem ler, é a coisa mais linda, só um professor alfabetizador sabe do que eu estou falando, e estou tirando onda mesmo, porque não há nada mais lindo do que ver isso em uma criança, nada que me traga mais esperança!). Perceber que eu, como profissional, em alguns momentos nem o vejo em sala, nem sei exatamente o que está fazendo ou que horas ele aprendeu a música “Olha a explosão, quando ela cai ca bunda no chão” com outro coleguinha e chega em casa a noite cantando. E me orgulhar disso, sim! Isso me prova que eu posso olhar para todas aquelas crianças que estão ali esperando algo de mim sem me distrair “com a presença do meu filho”. Saber que ele desenha a mãe e a professora. A primeira é enorme e a segunda é pequena. Para ele está tudo certo, a mãe ele sabe que é só dele e a professora ele tem um pedacinho dela….
Mas também não é fácil ver os defeitos e as fraquezas da cria ali, expostas. E não poder fazer nada em alguns momentos exatamente porque ele precisa saber o limite do bem e do mal, do certo e do errado, do que ele gosta e não gosta, do que o outro gosta ou não. Ele precisa se descobrir, se conhecer. E eu não posso fazer isso por ele. Dói. Mas fortalece a ele e a mim.
Assim, só posso dizer: obrigada meu Deus pelo privilégio de ser professora do meu filho, é uma dádiva!”
Março de 2018 – Mariana Vieira Teixeira
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