Esse ano meu filho Mateus completou 7 anos. A Pedagogia Waldorf, a partir de uma visão antropológica, explica o desenvolvimento humano a partir de períodos evolutivos de sete anos, os setênios. A partir dessa visão, Mateus estaria passando por transformações ainda mais profundas. Independente da pedagogia que eu ou você mais nos identificamos, o fato que é que meu filho cresceu e está me mostrando isso.
Quando Mateus tinha aproximadamente 1 ano, um certo dia no trabalho eu conversa sobre compartilhar a cama com a criança. Só para constar, eu era radicalmente contra e pelo simples fato dele se acostumar e eu não saber o que fazer depois. Eu trabalhava de 8 a 10 horas por dia, meu marido trabalhava viajando, ficando fora a semana toda. Parecia inevitável que aquela seria a minha situação: compartilhar a cama com Mateus pelo simples fato de ser o único momento do dia que estávamos juntos e de eu não ter forças para levá-lo para sua cama.
Uma amiga, já com filhos grandes, apenas me disse: “Esquece isso Mariana, uma hora eles crescem. Aí você verá quem não vai mais querer dormir junto. Vai sentir falta de não ter aproveitado enquanto podia.”
O que ela disse ficou para sempre na minha cabeça. Eu e meu marido seguimos nosso coração. Tinha dia que nenhum de nós dois queria desgrudar dele, acabava adormecendo e ficando ali com a gente. Já em outros, a gente tentava dormir na cama com ele. Foi crescendo e não tivemos uma regra, se assim posso dizer. Percebíamos que Mateus ficava confuso, pois já maior um dia perguntou por que que ele só podia dormir na cama comigo quando o pai viajava. Não julgamos ou explicamos, apenas levamos o colchão dele pro nosso quarto nesse dia (e em outros).
Entendo e acho legítimo o argumento de que os pais perdem a sua privacidade, de que a criança pode ficar mal acostumada. Mas aqui em casa nunca encaramos dessa maneira. Se certo ou errado, eu não sei. Apenas foi assim que a gente fez. Quando dava e todos queriam, ótimo. Mas o dia que alguém não estava bem pra isso, respeito.
Voltando a trabalhar em escola, muito ouvi e até aconselhei muitas famílias de que estava na hora da criança dormir no seu quarto. Me perguntava se eu podia dizer aquilo mesmo, afinal lá em casa era um pouco diferente. Hoje percebo que era muito diferente dessas situações. Já que lá em casa não havia desconforto, havia diálogo. Sempre conversamos muito com Mateus (até demais). Hoje colhemos esses frutos, ele é uma criança que sabe dizer o que sente, o que pensa. Claro que, como toda criança, tem dificuldade de equilibrar razão e emoção. E nós, como todos os outros pais, nem sempre estamos disponíveis para tal conversa. Mas acho que a vida é isso, né.
E por que contei toda essa história? Porque há umas noites atrás, em mais uma semana que seu pai estava fora e Mateus dormindo comigo (sim, ele tem 7 anos já), ele disse:
“Mamãe, eu percebi que quando durmo aqui na sua cama acordo várias vezes a noite. Deve ser porque já me acostumei com a minha cama, com o meu quarto. Eu durmo melhor lá”
Pode ser mesmo filho, eu também adoro a minha cama. E adoro dormir pertinho de você. Mas se você se sente melhor lá, quer trocar? – eu respondi
Ele ficou confuso… Então eu disse que poderia ser na próxima noite se ele quisesse, já que estávamos deitados e quentinhos. E ouvi
“Tá bom mamãe, amanhã.”
Hoje, quando acordamos e fomos guardar o pijama, eu disse para colocar no quarto dele, já que essa noite ele ia dormir na cama dele pra se sentir melhor. Ele me olhou, sorriu e disse: “Isso mesmo mamãe”.
Se conselho fosse bom, a gente não dava. Ainda mais quando envolve maternidade e paternidade. Estamos cansados de palpiteiros. Mas não deixe de conversar com as pessoas e ouvir o que elas têm a dizer, de coração aberto. Acolha aquilo que irá lhe fazer bem. Tenha coragem de duvidar de si, de expor seus medos, de fazer diferente. Por aqui está dando certo, isso tem nos libertado de muitas dores que podemos evitar, porque sei que tem aquelas que não podemos….
Gostaria de encontrar a minha amiga e dizer pra ela: “É, ele cresceu… Já não quer mais dormir comigo…”