Logo no começo do canal @marianaeduca postei um vídeo para ser mostrado para crianças a partir de dois anos sobre um tema delicado e polêmico: o abuso sexual infantil (clique aqui para assistir). Fiquei emocionada com o depoimento de L.S., pai da MJ, uma menina de 4 anos. Ele me disse que sempre se preocupou e queria muito conversar com ela a respeito. Mas por ser homem e ela muito pequena, não sabia por onde começar. O vídeo foi para ele uma ferramenta importante que possibilitou o diálogo.
O dia 18 de maio é marcado como Dia de Combate à Exploração Sexual Infantil. Durante todo o mês, várias ações apoiaram a causa. Realizei uma campanha no Instagram trazendo informações da Revista Crescer sobre como os pais podem ajudar e a importância do Disque 100 para denúncia.
Como profissional da área de educação, não posso deixar de citar o papel importante que a Educação Sexual nas escolas (e em casa) tem no combate a esse e outros problemas relacionados às nossas crianças e adolescentes. O resultado da enquete no @marianaeduca mostra que a maior parte de nossos seguidores (90%) também acha que precisamos falar mais sobre o assunto. Entretanto, fake news levam muitos a acreditar que esse não é papel da escola.
Mas afinal, o que é educação sexual? Para responder a essa pergunta primeiro precisamos entender o que é sexualidade (que não é a mesma coisa que sexo!).
O termo sexualidade diz respeito à identidade, afeto, autoestima, relacionamento. Na reportagem “Sexualidade: como falar sobre com o seu filho” da Revista Crescer, pediatras e psicólogos trazem informações preciosas sobre essas diferenças. A sexualidade está presente em todas as fases da vida, sendo vivenciada de maneiras diferentes, com olhares diferentes em cada fase. (clique aqui para ler a reportagem na íntegra)
Outro destaque é para quando os pais fogem dessa responsabilidade. Naturalmente as crianças e adolescentes irão buscar as respostas que precisam. Se a escola compreende seu papel nesse momento, tudo bem. Assim os pais poderão ser informados e ajudados. Afinal, muitos não sabem como educar sexualmente seus filhos. Caso ela, escola, não o faça, o risco de que as respostas venham de pessoas e lugares perigosos é grande. Despreparados, crianças e adolescentes correm mais riscos. Além do abuso sexual, uma gravidez não planejada na adolescência e infecções sexualmente transmissíveis são algumas das consequências.
Então, o que é educação sexual? Acho que a resposta fica mais clara quando compreendemos sobre o que falar com crianças e adolescentes, respeitando suas fases do desenvolvimento e a individualidade de cada um. Por isso, na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental o professor e a equipe pedagógica precisam saber quais as curiosidades mais comuns de cada fase. E as respostas não devem vir em “aulas palestras”. Devem ser tratadas de acordo com a curiosidade de cada um, respondido apenas aquilo que a criança perguntou, sem rodeios ou fantasias. Todo cuidado é pouco para não despertar nas outras crianças algo que ela ainda não se deu conta.
Apenas a partir do 8º ano do Ensino Fundamental é que, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, o assunto deve ser introduzido formalmente no currículo. Mais usualmente o tema é tratado dentro da Biologia. Entretanto, seria muito interessante que fosse parte do projeto pedagógico da escola, com a participação de especialistas por exemlplo.
A educação sexual busca trazer informações científicas sobre as transformações do corpo, os sentimentos que elas trazem nas diferentes fases, a valorização e autoestima do corpo de cada um. Saber quem eu sou, gostar de mim sem depender da aprovação do outro, me aceitar consciente das qualidades e limitações que meu corpo me impõe, compreender que determinados momentos de transformação são da natureza humana e acontecem com todos, de um jeito particular com cada um. Esses são os objetivos da Educação Sexual.
Também fica claro que não podemos defender como sendo papel exclusivo da escola. A família é quem melhor conhece a criança, tem sua cultura e costumes (que devem ser respeitados) para educá-la na direção que achar mais pertinente. Mas a sociedade não pode fechar os olhos e esquecer que mais de 70% dos casos de crianças que sofrem violência acontecem em casa. Por isso a escola precisa estar atenta.
A relação escola – criança – família tem sido minha grande bandeira no @marianaeduca. Mais uma vez ela se mostra como uma possibilidade para a compreensão do universo infantil e a defesa dos direitos de informação e proteção à criança.