Difícil começar este texto. Busco por uma definição de família: não encontro nenhuma que abrace todas as famílias que conheço. Penso em dicas para “famílias felizes”: não parece verdade ou possível. E percebo que qualquer padrão que se tente estabelecer para uma família não representará o que ela realmente é. E como falar das famílias com crianças então? Algumas palavras não saem da minha cabeça: afeto, respeito e paciência são as que mais me tocam. E para você, qual palavra estaria nesta lista?
Vamos falar primeiro do afeto. Esse começa antes mesmo da concepção ou da adoção. Quando há o desejo de se ter um filho, já existe afeto. Mesmo quando se descobre inesperadamente a gravidez, ele está lá. Sua presença não é garantia da ausência da frustração, raiva, angústia ou medo. Mas ela já é o primeiro passo para o acolhimento desses sentimentos que tomam contam da relação familiar em muitos momentos e nos fazem pensar se estamos realmente fazendo o melhor para nossos filhos. Se você faz o certo, ninguém pode afirmar. Mas procure ter certeza que você é a melhor mãe ou o melhor pai que você consegue ser. Quando olhamos dessa maneira para a relação com nossos filhos, cheia de afeto, assumimos que nem sempre saberemos o que fazer. E saber disso reflete na maneira como educamos nossos filhos. Eles saberão que nem sempre tudo está no controle e que com amor tudo pode ser resolvido.
Tudo isso é respeito. Respeito por quem você é como mulher, como homem, como mãe e como pai. Respeito por quem é seu filho, seu filha. A família passa a ser um lugar em que as diferenças são acolhidas. E isso para uma criança em seu desenvolvimento emocional e social é fundamental. Quando sente que seus sentimentos são respeitados, ela se sente segura. E sentir-se seguro é essencial para não nos perdermos. Se sua família procura se informar, com certeza já leu ou ouviu alguém falar de educação emocional. Um tema para uma outra conversa, mas que não deixa de estar presente aqui quando você respeita a criança e a acolhe, ensinando-a a lidar com o que ela sente e não a reprimir. Somente respeitando seus momentos de felicidade e tristeza, amor e raiva, serenidade e ansiedade, é que ela poderá reconhecê-los e, com sua ajuda, saber o que fazer com eles.
O afeto e o respeito são o alicerce para que possamos ter paciência naquele dia que tudo deu errado no trabalho e em casa ouvimos “vamos brincar de que agora que você chegou, papai?”. Não é fácil. Em muitas outras situações do dia a dia nos sentimos reféns e obrigados a realizar determinadas “tarefas” com nossos filhos ou então ele não será bem educado e terá muitos problemas, principalmente na escola. Calma. Se vocês respeitam seu filho, eles te respeitarão também. Já pensou em conversar com ele sobre isso? Já pediu ajuda pra ele em uma alternativa para esse dia tão cansativo? Mas não vale fazer isso todo dia, afinal você é o adulto da situação, não se esqueça disso. É saudável para todos que cada um cumpra seu papel na família. Porém não cabe mais pensarmos que pais mandam e crianças obedecem. Não estou falando de não impor limites e regras, mas sim de que nenhuma relação dará certo se for tão engessada a esse ponto. Uma hora algo acaba saindo do controle e precisamos ser pacientes para estar dispostos ara lidar com essa situação. Esses serão os valores de sua família.
Talvez você esteja esperando agora uma sugestão bem prática para te ajudar. Tenho que me desculpar e dizer que não posso fazer isso. E sabe por quê? Ninguém conhece melhor o seu filho do que você. Conecte-se a ele, sinta o que ele quer te dizer com aquele grito, com aquela birra, com as chamadas insistentes para brincar. Você saberá melhor do que ninguém o que fazer, mesmo que para isso precise se virar de costas por um segundo e enxugar uma lágrima ou soltar um grito silencioso. Também preciso dizer que não será da noite para o dia, ou que será mais fácil que ceder às vontades da criança. Mas acredite, valerá a pena. Estabelecer essa conexão através do afeto, do respeito e da paciência fortalecerá a família para viver sua vida real com menos dores e com mais amor.
E se mesmo assim, você sentir-se só neste caminho, lembre-se dos amigos para te ajudar. Procure se informar, vá até a escola de seu filho, converse com os professores e com outros pais. Você perceberá que não está só e ainda poderá dar boas risadas ao reconhecer isso. Participe da vida de seu filho, saiba o que acontece na escola, quem é o melhor amigo, o que ele mais gosta de aprender e o que ele tem mais facilidade ou dificuldade. Conheça seu filho além de sua casa. Muitos pais se surpreendem quando percebem que fora de casa, longe do olhar deles, as crianças são aquelas que eles tanto queriam dentro de casa. Mas é em casa com você que ele se sente seguro para expor suas maiores fraquezas, pois sabe que com vocês ele pode contar. Então, tenha orgulho do filho que você tem.